Melhor do que ouvir o chamado é dizer "sim" para o chamado de Deus.






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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Você x Você


Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas... (Jeremias 17:9)

Acredito que todas as interrogações que podemos nutrir no percurso de nossas vidas partem sempre de um ponto comum: nós mesmos. Vivemos buscando o auto conhecimento e nos sentimos vazios, se não temos conosco nossa própria resposta em relação as nossas interrogações. Para obter essas respostas assumimos um relacionamento sério com nós mesmos  - começamos então uma viagem  de auto conhecimento, entendimento e aceitação. Passeando por cada um de nossos defeitos, visitando nossas carências, acatando de forma serena a nossa própria imperfeição humana.

 É simples? É fácil? É leve? É superficial? Não, não é não. Primeiro pela ausência da fantasia e ilusão - as quais estamos acostumados a fabricar, engolir e achar normal. Segundo porque esta relação se dá apenas entre você e você. Não existem quaisquer tipos de terceiros ou fatores externos habitando, intervindo e conduzindo seus pensamentos e principalmente, seu coração. Não existe nada anestesiando seus pensamentos e sentimentos sobre sua própria vida. Não, se você aceitar se conhecer. Não, se você se defender da sociedade e das suas fórmulas mágicas - que te levam sempre aos mesmos lugares vazios. É você e você numa relação que se dá pelas vinte e quatro horas que o dia tem. Dormindo e acordando, vivendo  interagindo o tempo todo. Sem mentiras. Sem afagos.  Sem colo. E nessa hora, todas as verdades que você tanto esperou ouvir dos outros, se espelham em você mesmo e você descobre como seu coração é enganoso. Quem é você afinal? O que você deseja de verdade para sua vida? Você pergunta a si mesmo. Pergunta e responde. Pergunta e reconhece que falhou demais.  Mentiu demais. Sonhou demais. Se iludiu demais. Se esfolou com seus próprios sentidos. Se machucou ao esperar dos outros o que não entregou a si. Mas assim aprendeu! 

Entenda, é sempre de dentro pra fora! É do coração para cabeça que tudo flui e se torna sustentável a nossa volta. Só existe verdade no que você diz e faz, quando você está em sintonia com você mesmo. Sem essa conexão, teoricamente óbvia e na prática, muito rara - nada é sustentável - nada é real - seus gestos, seus atos, sua voz, tudo se resume utopia. É só depois. Sim, é algum tempo depois de que você se olha no espelho e sabe - sem artimanhas - quem você é e o que você quer de verdade, que você se torna capaz e digno de amar a si e por consequência, a qualquer outro ao seu redor. É depois de saber o que você quer, o que você não quer, o que aceita e o que jamais irá aceitar - que você encontra o amor, o amor por você mesmo, que é pré-condição sentimental para amar o outro.

Você questionou. Você insistiu. Você buscou se conhecer e acabou conhecendo o amor próprio. Agora ficou fácil, né? Não. Agora ficou mais difícil do que já foi um dia, do que é por natureza. Agora, você não tapa mais o sol com a peneira. Agora, você não usa ninguém para calar sua carência ocasional, você se usa. Agora, você sabe em pouco tempo, ao presenciar pequenas atitudes - o que pode crescer e o que jamais vai passar da condição de semente. Agora, você promete menos, sonha menos e respeita em igualdade com o seu, o sentimento do outro. 

Mas e o resto?  O que é o resto - se o resto é tudo que você não aceita, não quer e não admira? Restos? Agora, você anda feliz na sua própria companhia. Agora, ainda que só - você conhece a mesmice do fim de cada dia - e entendeu de um jeito doce (e não com a sensação de exclusão) que não existe ali um final que combina com você.  Agora, você é feliz - ainda que deseje o que não tenha - e só vai aceitar os sentimentos que cheguem pra somar, pra te tornar alguém mais feliz e melhor. Depois que você se conhece, depois que você se ama e descobre o que quer - o que te seduz é a sintonia. Sintonia de pensamentos. Sintonia de respeito, de amor próprio.

Sintonia… Ela te mostra que os desencontros valeram, que todos erros e tudo mais aconteceu do exato jeito que tinha que ser. E então, finalmente, sua fé em Deus e cada uma de suas orações  ganham um sentido maior - não parece que é amor - não tem jeito nem cara de amor - é amor, apenas amor próprio - e isso basta para não cairmos mais nas armadilhas do nosso enganoso coração.