Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas... (Jeremias 17:9)
Acredito que todas as interrogações que podemos nutrir no
percurso de nossas vidas partem sempre de um ponto comum: nós mesmos. Vivemos
buscando o auto conhecimento e nos sentimos vazios, se não temos conosco nossa
própria resposta em relação as nossas interrogações. Para obter essas respostas
assumimos um relacionamento sério com nós mesmos - começamos então uma viagem de auto conhecimento, entendimento e aceitação. Passeando por cada um de nossos
defeitos, visitando nossas carências, acatando de forma serena a nossa própria
imperfeição humana.
É simples? É fácil? É leve? É superficial?
Não, não é não. Primeiro pela ausência da fantasia e ilusão - as quais estamos acostumados
a fabricar, engolir e achar normal. Segundo porque esta relação se dá apenas
entre você e você. Não existem quaisquer tipos de terceiros ou fatores externos
habitando, intervindo e conduzindo seus pensamentos e principalmente, seu
coração. Não existe nada anestesiando seus pensamentos e sentimentos sobre sua própria vida. Não, se você
aceitar se conhecer. Não, se você se defender da sociedade e das suas fórmulas
mágicas - que te levam sempre aos mesmos lugares vazios. É você e você numa
relação que se dá pelas vinte e quatro horas que o dia tem. Dormindo e
acordando, vivendo interagindo o tempo
todo. Sem mentiras. Sem afagos. Sem
colo. E nessa hora, todas as verdades que você tanto esperou ouvir dos outros,
se espelham em você mesmo e você descobre como seu coração é enganoso. Quem é você afinal? O que você deseja de verdade
para sua vida? Você pergunta a si mesmo. Pergunta e responde. Pergunta e
reconhece que falhou demais. Mentiu
demais. Sonhou demais. Se iludiu demais. Se esfolou com seus próprios sentidos. Se machucou ao esperar dos outros o
que não entregou a si. Mas assim aprendeu!
Entenda, é sempre de dentro pra
fora! É do coração para cabeça que tudo flui e se torna sustentável a nossa
volta. Só existe verdade no que você diz e faz, quando você está em sintonia
com você mesmo. Sem essa conexão, teoricamente óbvia e na prática, muito rara -
nada é sustentável - nada é real - seus gestos, seus atos, sua voz, tudo se
resume utopia. É só depois. Sim, é algum tempo depois de que você se olha no
espelho e sabe - sem artimanhas - quem você é e o que você quer de verdade, que
você se torna capaz e digno de amar a si e por consequência, a qualquer outro
ao seu redor. É depois de saber o que você quer, o que você não quer, o que
aceita e o que jamais irá aceitar - que você encontra o amor, o amor por você
mesmo, que é pré-condição sentimental para amar o outro.
Você questionou. Você insistiu.
Você buscou se conhecer e acabou conhecendo o amor próprio. Agora ficou fácil,
né? Não. Agora ficou mais difícil do que já foi um dia, do que é por natureza.
Agora, você não tapa mais o sol com a peneira. Agora, você não usa ninguém para
calar sua carência ocasional, você se usa. Agora, você sabe em pouco tempo, ao
presenciar pequenas atitudes - o que pode crescer e o que jamais vai passar da
condição de semente. Agora, você promete menos, sonha menos e respeita em
igualdade com o seu, o sentimento do outro.
Mas e o resto? O que é o resto - se
o resto é tudo que você não aceita, não quer e não admira? Restos? Agora, você
anda feliz na sua própria companhia. Agora, ainda que só - você conhece a
mesmice do fim de cada dia - e entendeu de um jeito doce (e não com a sensação
de exclusão) que não existe ali um final que combina com você. Agora, você é feliz - ainda que
deseje o que não tenha - e só vai aceitar os sentimentos que cheguem pra somar,
pra te tornar alguém mais feliz e melhor. Depois que você se conhece, depois
que você se ama e descobre o que quer - o que te seduz é a sintonia. Sintonia de
pensamentos. Sintonia de respeito, de amor próprio.